Rita Cardoso
La Habana Vieja
Atualizado: 2 de out. de 2020
Apesar de Cuba estar apenas no fuso horário GMT -4h, a primeira noite foi meia passada em branco, mesmo com o cansaço do dia anterior todo em viagem. Por isso, às 6h45 já estávamos prontos para começar a explorar La Habana.

Assim que saímos de casa, deparámo-nos logo com uma aula de ginástica, os estudantes aproveitavam o fresco do parque perto da escola para se exercitarem, não um ginásio ou dentro de um edifício qualquer.
Aqueles carros , pelos quais Cuba também é famosa, estavam em todo o lado, parecia um autêntico museu ao ar livre, carros que trariam todo o tipo de recordações à geração dos nossos pais e avós, todos eles de imensas cores, do mais berrante ao mais discreto e moderado e, também aqueles mais exuberantes com bandeiras e em bom estado, e ainda aqueles que foram pintados à mão, conforme o recheio do bolso de cada um.
Facilmente encontrámos o Museu da Revolução, tem uma grande praça em frente com uma bandeira de Cuba imensa, demonstrando o patriotismo que se pede aos cubanos. Este museu encontra-se sediado no que foi o Palácio Presidencial até à data da Revolução, mas lá iremos mais tarde.


Daí seguimos para a Plaza del Angel, de onde saíria a Free Walking Tour às 9h30. Como chegámos lá bastante cedo, aproveitámos o Café del Angel para tomar o pequeno-almoço, onde um pequeno-almoço americano, uma taça de fruta e dois sumos nos custou 8 cuc ~ 8 €.

Começámos a ver pessoas a chegar e o objeto identificador da tour, um guarda-chuva branco. Aproximámo-nos e fomos recebidos com simpatia e entusiasmo. Esperámos mais um pouco pela hora certa e fomos divididos em grupos determinados pela tour em si, Havana velha ou Havana Central, idioma da tour, inglês ou espanhol e número de pessoas. Ficámos com a Paloma, uma guia muito simpática e animada que nos viria a fazer uma excelente tour por Havana Velha. Partilhou connosco muitos factos históricos sobre Havana, bem como muitos factos curiosos sobre a “verdadeira” vida em Cuba e por trás do turismo.
La Habana, capital de Cuba, surgiu em 1519, após a descoberta de Cuba em 1492 por Cristóvão Colombo, colónia Espanhola, considerada em tempos uma das cidades mais importantes das Caraíbas. Divide-se hoje em Habana Vieja e Habana Central, em que a primeira em conjunto com as suas fortificações foram consideradas Património Mundial da UNESCO em 1982. Nesta, o nosso percurso focou-se em torno das quatro praças principais, Plaza de la Catedral, Plaza de San Francisco de Asís, Plaza de Armas e Plaza Vieja.
Uma das primeiras paragens foi numa unidade básica de comércio, em que cada pessoa tem uma caderneta de abastecimento com uma lista cada vez menor de produtos, e pode ir a estas unidades levantá-los. Estes produtos não são em quantidade suficiente para constituir a fonte principal de alimentação dos cubanos, cerca de 20 a 30% do necessário mensalmente, pelo que têm que tentar obter outros produtos em mercados, de forma não subsidiada e com preços mais altos, (muitas vezes incomportáveis), uma vez que a média do salário nacional de Cuba ronda os 30 dólares mensais, equivalente a 26 euros.

Não é então de estranhar que se vejam várias pessoas a tentar conversar com turistas, com o intuito de lhes pedir produtos de higiene, pão, entre outros. É também comum que parte da população tente arranjar outros trabalhos cumulativos com outro que já tenham, principalmente na área do turismo, área em que se vê muito movimento e um “dinheiro fácil”, que entra diretamente nas contas da família.
Outro local de interesse histórico é a Catedral de la Virgen María de la Concepción Inmaculada de La Habana e lá ouvimos a história de como a religião dos escravos africanos se desenvolveu lado a lado com a Católica, criando a religião Afro-cubana, e como a visita histórica de João Paulo II “devolveu” a religião ao povo cubano em 1998, depois da política Socialista do Estado impor o ateísmo à população. Nesta praça, Plaza de la Catedral, vimos as famosas cubanas com vestidos coloridos a fumar charutos gigantes, uma autêntica armadilha para turista, assim que vêem alguém a olhar com mais interesse ou a tirar uma foto, aproximam-se com os seus lábios bem pintados de vermelho forte, e dão beijos nas bochechas dos homens para tirarem fotografias com elas, claro que sempre em troca de uma gratificação. Passámos também por muitas casas coloniais que pertenciam aos emigrantes espanhóis, e foram restauradas para darem espaço a museus e locais turísticos, e ainda outras com boa aparência por fora, mas que não passava disso.

Vimos ainda a influência que Ernest Hemingway teve em Havana e no turismo, parecia um Midas do turismo, tudo o que ele tocou foi transformado em atração. Bodeguita del Medio, onde se pode beber um mojito e assinar a parede, Floridita, pelos seus daiquiris famosos e local de lazer de Hemingway, e ainda o quarto dele no Hotel Ambos Mundos, em que vale a pena a visita pelo seu terraço e bar. Tem uma vista muito interessante por ser umas das construções mais altas na zona de Havana Velha.


Na Plaza de Armas, entre outros, está situado o Palacio de los Capitanes Generales (atual Museu da Cidade) e a história de como o barulho das tropas a marchar na rua incomodavam a senhora do palácio, e por isso mandou-se substituir a pedra por madeira, existindo agora uma estrada completamente feita de tacos de madeira. Do outro lado da praça encontra-se El Templete, marco histórico por ser o local da primeira missa e simbolicamente onde começou La Habana.





A caminho da última paragem na Plaza Vieja, passámos pelas casas de venda oficial (do Estado) de rum e cigarros/charutos. Fomos imediatamente alertados para não comprar nada disto na rua ou “mercado negro”, visto que só é barato por uma simples razão, é adulterado. Por isso, a menos que queiram comprar charutos com folhas de bananeira misturadas, evitem comprar na rua.

Como complemento pessoal, decidimos visitar o Museu de Arte Colonial, na Plaza de la Catedral. O bilhete sem visita guiada custa 3 CUC ~ 3€, e 6 CUC ~ 6€ com guia. Optámos pela visita simples, mas logo percebemos que isso não ia acontecer, uma vez que os guias rapidamente começam a andar connosco a abrir salas e explicar coisas e no fim pedem uma gratificação. No final, vai dar ao mesmo preço. De qualquer forma, valeu a pena, é um museu que se vê rapidamente e tem algumas peças interessantes, bem como caminhar dentro de uma destas casas coloniais foi uma experiência que me levou aos filmes do Zorro e aos livros da Isabel Allende.
Chegados à última paragem, não podíamos estar mais agradecidos pela Paloma, que nos deu informações interessantíssimas e de forma tão apaixonante.
Percebemos que é um país de enormes contrastes, mas que em termos humanos, não nos cruzámos com uma única pessoa que não nos recebesse com um sorriso na cara e curiosidade no olhar. E também que Havana tem muita História e muitas histórias por trás de cada fachada colorida. Mas isso, fica para depois! Até breve!
